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  • Professoras Cristina Ferreira e Paula Soares da Costa

À CONVERSA COM...

Atualizado: 7 de jul. de 2021

A Equipa do FGNotícias congratula-se pelo excelente trabalho exercido pela Drª Manuela Bacelar na Direção da nossa Escola, como Subdiretora, e quis saber mais.

Por isso, esteve "À conversa com..."


A Equipa do FGNotícias: Qual o balanço que fazes do trabalho de parceria na Direção?

Subdiretora: Foram 20 anos e o balanço que faço deste tempo que trabalhei em parceria na Direção é extremamente positivo. Trabalhamos com o Adriano, com o Maia e trabalhamos com o Carlos Sá e os dois únicos elementos que se mantiveram na Direção ao longo destes 20 anos fui eu e a Dores.

Nós já éramos amigas. Começamos a trabalhar em 1975 na Escola Preparatória da Póvoa de Varzim que funcionava na Escola Eça de Queirós. Fomos lá colocadas, as duas pela primeira vez, a iniciar a nossa vida profissional, e como éramos as duas novatas impingiam-nos as piores turmas da escola. Nós tínhamos os supletivos diurnos, tínhamos as turmas mais complicadas. Eu era a professora de História e a Dores a professora de Ciências e isso fez com que nós conversássemos muito. Todos os dias, à beira dos livros de ponto, nós juntávamo-nos para sairmos juntas e íamos juntas até à Escola Nova porque depois ela virava para a casa dela e eu virava para a minha. Por isso, quando nós, há 20 anos, iniciamos o trabalho na Direção já éramos muito amigas.

Entre nós nunca houve qualquer problema nestes 20 anos. Às vezes, é difícil de se acreditar e quando se diz que eu e a Dores nunca tivemos nenhuma "chaticezinha", não tivemos nenhum problema, as pessoas podem pensar que nós agora estamos a "dourar a pílula", mas é absolutamente verdade. Claro que nem sempre tivemos opiniões rigorosamente iguais, mas, no fundo, a nossa ideia de escola e aquilo que a gente quer para uma escola e aquilo que a gente entende que deve ser uma escola, que é o essencial, é igual. Tivemos, às vezes, que limar alguma aresta, alguma coisa que ela pensava de uma maneira e eu achava que era de outra. Temos temperamentos diferentes, mas conversávamos, chegávamos a uma conclusão e aquilo que passava cá para fora era aquilo que nós tínhamos decidido que ia passar. Portanto, nunca tivemos o mais pequeno problema. Acho que foi extremamente positivo e é positivo o trabalho de parceria, desde que as pessoas se saibam respeitar e respeitar o outro e trabalhar efetivamente em conjunto.

A Equipa do FGNotícias: O ensino e a tua relação com os alunos esteve sempre em primeiro lugar. Além do cargo na Direção nunca deixaste de lecionar. Em que sentido foi importante manteres um contacto mais direto com os alunos?

Subdiretora: Houve dois ou três anos em que não tive turma. Quando tive redução de horário não precisava de ter componente letiva porque a lei não exigia essa componente. Depois, houve uma alteração à lei e todos os elementos da Direção tinham que a ter, exceto a Diretora da escola. Portanto, eu, num período de dois, três anos, não tive componente letiva e depois voltei a ter, por obrigatoriedade da lei, uma turma. Agradou-me imenso essa alteração da lei, porque quando tinha aulas, ir à aula e dar aula aos meus alunos funcionou sempre como um momento de descompressão e um momento de relaxe. Eu gosto de dar aulas, eu sempre gostei de ser professora, sou filha de uma professora, sou sobrinha de uma professora com quem vivi sempre. Desde sempre, dei aulas às minhas bonecas e, portanto, gostei sempre muito daquilo que fiz ao longo da minha vida toda. Acho que mantive sempre com os alunos uma boa relação. No início do ano, eu punha as minhas regras e não deixava que os alunos as esquecessem.

As regras eram sempre escrupulosamente cumpridas e, portanto, eles sabiam com o que contavam, eu sabia também com o que contava e nunca tive nenhum problema ao longo da minha carreira toda, dos meus 45 anos de serviço, nenhum problema sério, claro... Porque toda a gente tem problemas com os alunos... Portanto, teria sido muito mais custoso para mim se durante estes 20 anos eu tivesse cortado com a minha relação com os alunos. Eu gostei de continuar a dar aulas e considero que foi importante manter esse contacto.

A Equipa do FGNotícias: E o que levas de melhor da Escola Dr. Flávio Gonçalves?

Subdiretora: Eu acho que não sou, que não vou ser vaidosa se disser que saio com a convicção de que saio respeitada por todos. Acho que não é vaidade minha. Posso dizer sem nenhum receio que os outros digam: "Aquela acha que conseguiu uma coisa que muitos não conseguem". Eu acho que saio respeitada pelos meus colegas, alunos, funcionários e professores da escola. Eu procurei sempre ter uma conduta que me permitisse entrar na escola de cabeça erguida e sair da escola de cabeça erguida. Acho que consegui. Procurei ter uma postura igual para com todos, agir da mesma forma para com todos os professores, para com todos os funcionários, para com todos os alunos, para com todos os pais e acho que o melhor que eu levo da escola, realmente, é esse sentimento de que saio respeitada por toda a gente.(emocionada)

A Equipa do FGNotícias: Um sentimento?

Subdiretora: Vou escolher a Solidariedade.

A Equipa do FGNotícias: Uma memória da Escola?

Subdiretora: Uma memória da Escola...Uma memória... É uma coisa extremamente redutora, vocês pedirem-me que dos meus 45 anos de trabalho selecione uma memória. Eu vou ser muito rápida, vou dizer que tenho memórias muito diferentes relacionadas com alunos, com professores, com encarregados de educação.

Eu lembro-me, por exemplo, (a Dores diz muitas vezes que temos que escrever um livro com as nossas memórias), eu tenho uma memória curta e ela não, ela tem uma memória longa, mas eu lembro-me, por exemplo, uma vez, de nós estarmos as duas na Direção e entrar o Sr. Zé Maria, que era um funcionário que já se aposentou muitos anos, com dois meninos, um rapazinho e uma menina, pequeninos que não andavam mais do que no 6º ano. E entrou e disse: «Senhora Professora, eu venho aqui trazer estes dois meninos que apanhei aos beijos "prefundos, prelongados e sefocantes". (risos) Eu fui apanhar uma caneta, baixei-me atrás da secretária, a Dores disse: "Eu ajudo-te, eu ajudo-te» e veio também abaixo da secretária e rimo-nos, porque não conseguíamos suster as gargalhadas... gargalhadas não, mas os sorrisos que trocamos entre nós e levantámo-nos um bocadinho mais recompostas e dissemos: "Ó Sr. Zé Maria, deixe-nos com os meninos que nós tratamos do assunto". E essa história dos meninos ficou-nos para sempre.

Eu dei aulas a deficientes auditivos antes de ir para a Direção. Chamava-se, nessa altura, o NACDA, Núcleo de Apoio a Crianças com Deficiência Auditiva, e tínhamos quatro ou cinco alunos e claro que entre nós e eles havia uma amizade muito grande. Nós estávamos muito próximos desses meninos, eu dava História e tinha uma miúda que andava sempre no meu colo, a miúda adorava-me. Um dia, essa miúda disse-me assim: "Olha, professora, eu quando for grande eu quero ser como tu, bonita, vaidosa e rica!".(risos) Depois, uma vez, cheguei a uma sala e uma miúda disse-me: "Ó Senhora Professora, sabe, a minha mãe já foi sua aluna!" e eu disse: "Ai sim? Então vamos fazer uma coisa: hoje vocês vão-se apresentar e na próxima aula, tu vais fazer a minha apresentação. Vais falar com a tua mãe sobre mim e vais ser tu a fazer a minha apresentação". Claro que na aula seguinte, quando a miúda chegou para fazer a apresentação, fez a minha apresentação altamente elogiosa e eu também compreendo que a mãe tivesse carregado em algumas notas, porque a menina ia ser minha aluna durante o ano, mas muitas das coisas ou quase todas as coisas que a miúda disse, efetivamente, eu vi retratadas as minhas aulas e vi retratada a minha postura para com os alunos. Portanto, aquilo também me encheu de vaidade, tantos anos depois, alguém se lembrasse das minhas aulas e de mim como a forma que aquela mãe mostrou lembrar. Depois tenho também muitas recordações relacionadas com professores.

Eu acho que posso destacar, por exemplo, o passeio que os professores realizavam todos os anos, no final do ano. Eu posso destacar, por exemplo, o Grupo de Danças e Cantares do qual eu fiz parte desde o primeiro momento até ao fim e sempre, fizemos muitas diversões, até fomos a Vilar de Perdizes, ao Congresso de Medicinas Alternativas. Eu acho que eram momentos excelentes, os nossos ensaios na escola, as nossas saídas. Lembro com muita saudade esse Grupo de Danças e Cantares.

Eu também recordo com muito carinho a nossa ida a Bruxelas (eu nunca quis ir com a Biblioteca porque tenho a limitação do Inglês e nunca me senti à vontade para ir com a Anabela). Adorei ir com vocês, adorei imenso de sair com os alunos, com aquele grupo de professores.

Uma coisa que também gostei muito nestes últimos anos foi a festa que me fizeram quando eu fiz 66 anos. Fiz anos num domingo e estava longe de imaginar, mas muito longe, a festa que me fizeram na segunda-feira. Portanto, foi uma festa absolutamente surpresa e eu não estava minimamente a contar e foi uma coisa que me marcou profundamente.


A Equipa do FGNotícias: Um livro a ler?

Subdiretora: Ora bem... Um livro a ler... Eu gosto muito de ler , leio desde sempre... e acho que vou destacar três livros, não um.

O primeiro livro que faz parte da minha memória é "Os Miseráveis" e eu comecei a ouvir a história dos "Miseráveis" pela boca do meu avô que tinha "Os Miseráveis" em cromos. Eu não sei onde é que o meu avô comprava aqueles cromos. Aqueles cromos colavam-se numas folhas onde tinha o cromo 45, 46, 47... Nós éramos muito pequenas, eu e a minha irmã íamos para a cama do meu avô que nos contava e líamos e tínhamos a imagem, o cromo colado. Eu achava aquilo uma coisa espantosa e lembro-me quando fui para a escola, no primeiro dia, tinha seis anos quando fui para a escola e a minha professora perguntou quem é que queria contar uma história e ninguém se ofereceu como voluntária. Eu lá pus o dedo no ar e disse que ia contar uma história. Com certeza que a minha professora estava à espera que eu saísse com o Capuchinho Vermelho, Branca de Neve ou Sete anões e disse: "Então que história é que tu vais contar?" e eu disse que ia contar "Os Miseráveis".(risos) Eu com seis anos de idade dizer que ia contar "Os Miseráveis" pôs-me num patamar do qual a minha professora, nos quatro anos de escola, nunca me tirou. Efetivamente, ela com certeza nunca teve uma aluna que com seis anos de idade lhe fosse contar "Os Miseráveis".

Depois, na minha adolescência, eu gostei muito de ler e não me esqueço do "Mila 18" portanto, o ataque ao gueto de Varsóvia. Foi um livro que me marcou imenso, mais até que o "Guerra e Paz", porque é um livro muito mais pequeno e tem uma grande intensidade dramática, para mim, e senti neste livro o que não senti no "Guerra e Paz" e esse livro marcou-me profundamente. Gostei muito, muito de o ler.

Recentemente, um dos livros que eu mais gostei foi "O tempo entre costuras" da Maria Duënas, escritora espanhola. Eu li esse livro e também adorei, gostei imenso.

A Equipa do FGNotícias: E tens agora algum na cabeceira para ler?

Subdiretora: Tenho sim. Como se chama? "A andorinha e o colibri". À noite gosto muito de ler um bocadinho. Durante algum tempo não li porque achava que tinha dificuldade em ler com a luz artificial, mas depois fui ao oftalmologista, pus uns oculozinnhos e leio outra vez à noite, nem que me deite à uma ou duas da manhã, eu gosto de ler um bocadinho.

A Equipa do FGNotícias: E uma viagem a realizar ?

Subdiretora: Eu gostava muito de ir a um sítio que sei que não vou, porque uma viagem de avião com mais de três horas, é um suplício... Eu gostava muito de ir ao Oriente, à China, ao Japão, à Tailândia. Acho que não era capaz de fazer uma viagem de tantas horas e também não sei se teria coragem agora, já que não fui até agora, com 66 anos ... Essa viagem agora, eu com 66 anos e o meu marido com 67, também acho que tinha medo. Assim como fiz muitas viagens pela Europa, conhecemos muito, de carro, e adorava. Íamos até sem nada marcado, ficávamos aqui, ali e acolá, mas agora não me metia numa aventura dessas.

A Equipa do FGNotícias: Um sonho... ?

Subdiretora: Um sonho...Eu vou ser muito mais egoísta porque o meu sonho diz respeito efetivamente a mim só, a mim e à minha família. Eu sou muito feliz. Tenho 66 anos, comecei a namorar quando tinha 11, passamos uma vida toda juntos Tenho um filho que eu adoro, uma nora, uma neta e vou ter um neto e realmente o meu maior sonho é, sem querer morrer muito tarde porque não quero, porque também tenho a experiência em casa do que é morrer com muitos anos, mas gostava de envelhecer junto deles, com o máximo de qualidade.

A Equipa do FGNotícias: E um desejo para a escola ?

Subdiretora: Um desejo para a escola...Tenho o desejo que toda a gente tem. Eu estou ansiosa de ver as obras acabarem e espero e tenho a certeza que a escola vai continuar a ter profissionais empenhados em levar a escola aos patamares de qualidade com que toda a vida nós sonhamos. Portanto, esse é o meu maior desejo para a Escola!


A Equipa do FGNotícias: Muito obrigada, porque nesta entrevista retrataste aquilo que nós conhecemos de ti, uma pessoa íntegra.

Alguns colegas colaboraram na construção da nuvem de palavras que tão bem te caracteriza.

Felicidades para a vida dedicada à família e usufrui do melhor que ela te pode dar!


A equipa do FGNotícias

Cristina Ferreira e Paula Soares da Costa

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